sexta-feira, 8 de abril de 2011

Relato de professor na WEB. Desabafo replicante!

Da WEB
Navegando na internet, em sites de relacionamento, em uma comunidade de professores do estado da Bahia nos chama atenção um relato, um verdadeiro desabafo de um professor. O docente conta com uma "franqueza poética" como vê seus estudantes e suas aulas e as suas perspectivas (ou falta delas) diante de tal quadro a cerca de seu papel ou função como professor.
Suas palavras são semelhantes ou iguais a de centenas, milhares de professores brasileiros, e este "filme dramático" têm muitas copias por ai, rodando todos os dias nas escolas, principalmente as públicas do nosso país. Quem é professor no Brasil, pelo menos em algumas partes pode se identificar.

O titulo que ele coloca no seu desabafo é “De um professor”.

Fico imaginando o que faço por aqui.

Não tenho escrito tanto, por absoluta falta de tempo, mas a frustração que sinto me impele a fazê-lo. Estou dentro de sala e meu medo é imenso, minha angústia incomensurável, minha frustração suicidante.

Não vejo perspectivas futuras a estes alunos; não vejo mudanças em suas vidas; não vejo como conseguirem algo melhor de que seus pais conseguiram os dar; não vejo como, futuramente, se encaixarem em um mercado de trabalho competitivo como o nosso.

Não vejo como não passarem fome, necessidade, necessitarem de bolsas-auxílios-assistencialistas-família.

Tenho conversado com eles aula a aula; falo das profissões, da necessidade de estudo, de futuro. Pergunto o que querem, o que pretendem, o que pensam?

Na próxima aula, nada mudou.

Na última aula que estive com eles, antes dessa, me estourei. Fiz o que não se pode fazer. Gritei.

Hoje entro em sala.

Calado.

Frustrado.

Cansado.

Desestimulado...

Escrevo um texto qualquer no quadro para que copiem, sabendo que poderia escrever um texto sobre a perspectiva kantiana de conhecimento matemático, em inglês, que daria na mesma.

Talvez fosse melhor fazê-los copiar um texto em russo, porque assim nem eu mesmo também entenderia ou me interessaria.

Estaríamos quites.

Ouço um aluno perguntar para outro: “Declev é professor de quê mesmo?”; “Ciências”, responde o outro.

Fico calado, pois é como estou hoje, perguntando-me como um aluno não sabe de que dou aula, se já estamos no início de junho?

Viro-me ao quadro e escrevo mais um pouco, segurando na mão o livro de ciências de onde tiro o texto da perspectiva kantiana (ou poderia sê-lo).

Termino de escrever três parágrafos e sento para fazer a chamada, sem vontade nem de falar o nome deles.

Um aluno vira-se para mim e pergunta: “Declev, você é professor de quê? Qual é a sua matéria?”.

Levo as mãos ao rosto e tenho vontade de chorar. Respondo com um resmungo e escrevo estas linhas.

Eles ficam conversando, como se eu não estivesse aqui.

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