segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sociedade Aberta


Paulo Freire e a educação libertadora



Do educAÇÃO BR
Educação para a paz
Nesta semana, o mundo acordou com uma noticia estampada com uma enorme contradição. A morte, ou o assassinato de Osama Bin Laden, depois de quase 10 anos do atentado de 11 de setembro, a vingança da "terra da liberdade" liderada pelo seu primeiro presidente negro foi capa de mais um jornal da humanidade cada vez mais desumana. Enxergamos com lentes sujas uma paz manchada com mais sangue, a alegria de um povo abafando a tristeza de outro é uma repetição sem fim, mais réplicas de projetos de vingança se formam. A luta contra o terror continua e este continua a lutar contra nós, com a guerra procuramos a paz, nunca a encontraremos, estamos perdidos em nós mesmos. 
A sociedade que nos nossos tempos não pode mais ser local, e sim global, exige que sejamos cada vez mais cidadãos do mundo, irmãos de uma só nação, levanta-se então a nossa maior utopia, a nossa união. Perdemos as consciências, queremos a paz, mas não estamos sabendo busca-la, falta uma essência nos povos de todo o mundo, consciência que nos traga a essência de sermos mais humanos, nos traga liberdade sem que isso seja a escravidão de outros, nos falta aprender a maior lição de todas, as liberdades assim como a paz não podem ser impostas ou dadas, como Freire disse, devem ser conquistadas, a humanidade só conquistará a paz assim como a liberdade se houver busca e mérito real e na sua plenitude. Ocidente e Oriente devem aprender com o mesmo livro sagrado, o que educa para a paz.
João Baptista Herkenhoff*

A educação pode jogar um papel decisivo no crescimento da cidadania, na formação da consciência da dignidade humana e, num estágio mais avançado, na consciência da grandeza de todos os seres, como expressão cósmica da Criação, como ensina Frei Leonardo Boff.

Um projeto de Educação Popular deve orientar-se numa linha de educação libertadora. A propósito, cremos que permanece absolutamente válida a reflexão de Paulo Freire. A proposta desse educador brasileiro, internacionalmente respeitado, foi depois  enriquecida por muitos pensadores e pela prática militante de educadores populares.

A educação não é uma doação dos que julgam saber aos que se supõe nada saibam. Deve ser recusada, como acanhada, a concepção que vê o educando como arquivista de dados fornecidos pelo educador.  Rejeite-se, por imprestável, a passividade do educando, na dinâmica do processo educacional. Diga-se "não" à educação paternalista, ao programa imposto, ao ritmo pré-estabelecido, à auto-suficiência do educador.

Tenha-se presente, como absolutamente atual, o anátema de Paulo Freire à visão da palavra como amuleto, independente do ser que a pronuncia. Esteja-se atento ao seu libelo contra a sonoridade das frases, quando  se esquece que a força da palavra está na sua capacidade transformadora.

A educação libertadora vê o educando como sujeito da História. Vê na comunicação "educador-educando-educador” uma relação horizontal.  O diálogo é um traço essencial da educação libertadora. Todo esforço de conscientização baseia-se no diálogo, na troca, nas discussões. A humildade é um pré-requisito ético do educador que se propõe a ajudar no processo de libertação pela educação.

A educação libertadora busca desenvolver a consciência crítica de que já são portadores os educandos. Parte da convicção de que há uma riqueza de ideias, de dons e de carismas na alma e no cotidiano dos interlocutores.

O projeto final da educação libertadora é contribuir para que as pessoas sejam agentes de transformação do mundo, inserindo-se na História. Para isto é preciso que as pessoas decifrem os aparentes enigmas da sociedade. Os marginalizados devem refletir sobre sua situação miserável e anti-humana.  Devem identificar os mecanismos sócio-econômicos responsáveis pela marginalização e pela negação de humanidade. Devem buscar os caminhos para mudar as situações de opressão.

O mundo não é uma realidade estática mas uma realidade em transformação. Somos os arquitetos do mundo. O fatalismo é uma posição cômoda, mas falsa. Educandos e educadores, na perspectiva da educação libertadora, vão buscar juntos as chaves para transformar o mundo.

* Professor da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha (ES), palestrante Brasil afora e escritor

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