segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Professor Escravo


Dos grilhões ao quadro e giz.
Prof. Ana Caroline

Acordar às 6 da manhã de segunda a sexta, com uma carga horária de 40 horas semanais divididas em três turnos, quando não está ministrando as aulas em sala, está na sala dos professores planejando, quando está em casa, divide o tempo de se alimentar, trabalhos domésticos, e “descansar” com mais horas de planejamento ou correção de atividades e provas que sempre se estendem para os finais de semana, alguns ainda com sábado letivo. Um dia de trabalho que vai até perto do próximo, beirando a meia noite, dormir para recarregar-se para mais um dia de trabalho é a rotina para milhares de professores brasileiros.
O trabalho docente no Brasil é árduo e mal remunerado, sem valor e reconhecimento social, até ai nenhuma novidade, o problema é fazer tudo isso, ter essa grande responsabilidade de educar os filhos da nação, muitas vezes sem ter as mínimas condições e simplesmente não ser pago por isso. É a história de muitos educadores como a Ana Caroline, professora que deixou Imperatriz do Maranhão para se aventurar no Bico do Papagaio desde agosto deste ano, formada em Biologia, ministra aulas de biologia, ciências, química e religião em um colégio estadual do Tocantins.
Chegando ao quarto mês sem receber, a resistência financeira e psicológica está vencida assim como as inúmeras contas, débitos em mercados, farmácias, e vence também as caras que não tem mais expressão para ficar diante dos credores. A mais de cem quilômetros de casa, o cansaço e o desanimo são mais do que aparentes, e é claro que isso se reflete na qualidade das aulas.
O regime escravista de trabalho é caracterizado pela falta de direitos básicos, submissão a condições degradantes e desumanas. Ana Caroline assinou um contrato de trabalho com o governo do estado do Tocantins, o que legalmente a faz ter garantidos direitos trabalhistas, na prática, o direito que ela tem é o de dar aulas aconteça o que acontecer, sem receber por elas, logo surge uma imagem dos professores no pelourinho da educação.
A comparação deste regime de contrato com um regime de escravidão não chega a ser um exagero distante, lembrando-se do sofrimento dos negros africanos e afro-brasileiros na história do nosso país, é triste tentarmos fazer essa associação com os trabalhadores da educação no Brasil. Imaginamos a vida de qualquer trabalhador do século XXI que trabalha diariamente a mais de três meses e não recebe, logo enxergamos um cotidiano de incertezas, desânimo, insegurança, medos, um quadro do atual sistema capitalista completamente desumano, um ícone forte de um sistema de exploração da mão de obra.
O governo do estado do Tocantins pratica no funcionalismo público o que outros tantos estados brasileiros também fazem, sabemos que as prioridades são outras, educação não. A administração tocantinense afirma que pagará os contratos em dezembro, assim como professores efetivos que estão trabalhando 40 horas e recebendo apenas 20. A justificativa é que os atrasos são por conta da burocracia, alguns contratados receberam apenas um mês dos três trabalhados e também esperam o restante. O prejuízo já é certo, pois os descontos serão feitos em cima do valor de todos os meses juntos, o que reterá na fonte uma quantia grande do salário liquido dos professores.
O intrigante é que o governo em seu site da SEDUC-TO anunciou medidas de valorização da educação como a premiação de 12 milhões de reais para as escolas e seus profissionais, fora os gastos com a climatização das salas de aula, por exemplo. Tudo para 2012, enquanto na segunda metade de 2011, centenas de professores amargam o gosto de trabalhar tanto e não verem a cor dos seus pagamentos. Mais vale uma boa propaganda na mão do que dinheiro da folha salarial voando.


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