quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A difícil missão do professor que ousa ser Mestre no Brasil.

1ª Turma do Mestrado Profissional em Ensino de História - Universidade Federal do Tocantins (UFT). Aprovados no exame nacional 2014 coordenado pela UFRJ. As aulas iniciaram em agosto de 2014, a duração do curso é de 2 anos. A maioria da turma divide as aulas e leituras do mestrado com suas cargas horárias na educação pública e privada, alguns já entraram com pedido de afastamento desde agosto e até a data da matéria não lhes foram concedidas. (Na foto, os 15 mestrandos e o Profº Dr Vasní de Almeida - último da direita) 
Profissão professor, “profissão perigo”. Pode parecer exagero, mas esta expressão que inicia este texto, quando se vai ao fundo da educação no Brasil, não precisa ir tão as profundezas assim para que o termo “perigo” faça algum (muito) sentido. É um trabalho de extrema periculosidade, corre-se grande risco de sofrimento, padecimento físico, mental e moral caso a sua profissão seja a de “Mestre”.

Basta uma breve busca na internet e choverá na tela do seu computador matérias de casos de agressão aos professores, greves por melhores condições de salários e de trabalho, uma onda de judiação com direito a “cozinha” dos políticos, gestores que jogam no caldeirão ingredientes da importância primordial que a educação precede em qualquer projeto de sociedade, lasquinhas de “blá, blá, blá junto com condimentos apimentados nas ardilosas colocações como um ou mais governadores salpicaram em frases que descascadas, é algo mais ou menos como: “professor tem que ensinar por amor e não por salário”.

Mestre é quem tem mestrado e doutor é quem tem doutorado. Enquanto alguém que veste branco ou usa gravata é “doutor” sem formação stricto sensu e sem nenhum esforço quanto a tal reconhecimento, o professor tem que suar por duas ou mais vidas e se multiplicar entre sua carga horária estafante e “perigosa” para prosseguir no caminho severo de sua formação. Quando e olhe lá, além de “tio”, o “profi” leva o nome de “Mestre”, além de ser em certos eventos como no Dia do Professor, não soa como o título do doutor “adEvogado”, parece um “tapinha nas costas” e apenas frase de efeito colorida e pronta para cartões: “ao mestre com carinho”, uma forma de aliviar o ego tão massacrado deste profissional brasileiro.

Um mestre cujos discípulos não querem se tornar, o professor brasileiro segue atônito e refém da esperança de que um dia a educação e a valorização docente saltarão dos discursos e palanques e cairão no chão das salas de aula deste imenso Brasil. Espera que eterniza-se dada também a falta de politização e organização sobre as bases de uma consciência social, de classe da qual Marx já gritava manifestadamente em seus escritos como um dos fundamentos para transformação social diante do sistema de opressão dos trabalhadores no século XIX. Em meio aos sindicatos pelegos ou simplesmente mortos, os trabalhadores da educação alimentam nos bastidores de qualquer greve (nas suas edições anuais) o chavão: “professor é raça desunida”.

Melhorar a qualidade da formação dos professores é um dos maiores desafios educacionais do Brasil hoje e, para especialistas, as metas e estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE) são essenciais para o pleno desenvolvimento da área. Plano este que foi aprovado com um atraso de uns 3 anos. O censo escolar mostra que menos de 30% dos professores possuíam pós-graduação em 2001, número que não se alterou muito até 2014. Havendo sim crescimento de títulos de mestrado e doutorado no Brasil como revela reportagem do Estadão, estas titulações aumentaram em 15 anos (1996-2011) 312%, onde do total de mestres formados, que era 13,3% em 1996, pulou para 22,4% em 2009, 40% estão na área da educação (básica ou superior). (fonte: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-quadruplica-numero-de-mestres-e-doutores-imp-,1024725)

Sabe-se que como nas graduações, há também nas especializações (latos sensu) um mercado de certificações com cursos em períodos curtos, com aulas nos finais de semana, à distância, justificadas nas dificuldades dos professores em suas cargas horárias enormes, servindo de impedimento para sua formação em nível de pós-graduação, existindo instituições nas esquinas que se abastecem dessa carência cobrando quaisquer R$ 99,90 de mensalidade.  

Fazer mestrado para muitos professores da educação básica é um sonho quase impossível, a impossibilidade eles deixam para um doutorado mesmo.  “Considerando-se apenas mestrado e doutorado, vemos que o percentual de professores com este grau de formação, na melhor das hipóteses, não chega a 1% para os professores da 4ª série; 2%, para os professores da 8ª e 5%, para os professores da 3ª série do Ensino Médio.” (MEC-INEP 2001).

Há inúmeras dificuldades quase intransponíveis, é preciso muito força de vontade e evidentemente preparo já que as seleções são difíceis, ainda mais para quem está afastado das atualidades e dos graus de leitura tão comuns na academia. Quando se consegue passar nos processos seletivos, os professores enfrentam a burocracia e a falta de incentivo e vontade política das administrações públicas onde o mesmo está lotado, na liberação de afastamentos (previstos em lei) para aprimoramento e aperfeiçoamento profissional. No caso de servidores públicos concursados, quando o docente é contrato ou está na educação básica particular, as dificuldades são ainda maiores.

Parece que há um receio ou uma constatação de que quando professores obtêm titulo de Mestre, deixam a educação básica e procuram o ensino superior para lecionar, por isso certa barreira em liberá-los para o mestrado. Evidente que a razão para tal fato reside na vida, na carreira desse professor da educação básica, em certos casos, considerada um inferno, onde a fuga para o “céu da educação superior” passa a ser um objetivo de vida, ou ainda, um sonho. Uma realização mais pessoal e intelectual do que financeira, pois a remuneração do professor da educação básica com nível de mestrado e até de doutorado, na maioria dos sistemas de ensino é irrisória diante da turbulência que a maioria dos professores mestrandos passam para enfim poderem ser chamados de Mestres após as defesas de dissertação.  

Mesmo com uma paisagem ainda nebulosa, a melhoria na qualidade da formação dos professores vem se apresentando nas concessões de bolsas para professores de escolas públicas e na aposta da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) nos mestrados profissionais nas áreas de licenciatura, a exemplo dos mestrados em rede nacional profletras, profmat e profhistória que estão se espalhando por universidades federais de todo país. 


Contudo, é deveras importante que o professor, o que tem vocação, sobretudo, espírito para tão honrosa, mas tão desvalorizada profissão, não desistir, nem cair na depreciação voluntária da própria carreira ou classe, pois parece que é isto que certos setores, certas pessoas querem, a falência da educação básica, responsável pela formação da grande massa, filhos de trabalhadores, de gente simples, que merece na prática o que parece teoria na constituição, uma educação pública, gratuita e de qualidade. 

Referências:
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-quadruplica-numero-de-mestres-e-doutores-imp-,1024725